Ontem eu torci o pé e passei a noite com gelo no tornozelo rezando para não ter quebrado alguma parte do meu corpo em mais uma viagem (para quem não sabe eu quebrei o braço quando estive em Tóquio, em 2019). Hoje acordei 90% melhor e muito feliz por não ter estragado nossos planos. Escrevi que gostamos muito de ficar dentro de lugares, mas para chegar a eles nossa escolha preferida é sempre caminhar.
Não conseguimos reserva para o restaurante de hoje, mas lemos que era possível chegar lá e esperar por uma mesa. O restaurante abria às 11h30 e nos planejamos para sair e chegar umas 11h15.
Se eu havia achado a fila do restaurante de ontem grande era porque não havia passado nessa região de Palermo. Às 11h15, uma multidão na frente do Don Julio e umas 20 pessoas (vários brasileiros) na da casinha rosa onde fica o El Preferido — que descobrimos mais tarde é do mesmo dono do Don Julio. Conseguimos entrar porque o espaço é grande e nos sentamos na parte de fora novamente. Os atendentes eram muito amigáveis e o cardápio não era de QR code. Me lembrou um pouco os restaurantes da Renata Vanzetto, mas um pouco mais fresco (no sentido de frescor). Adorei, com certeza voltaria para provar outros pratos.
Pratos: Pedimos tudo junto: milanesa, batatas fritas (top 3 melhores que já comi) e carpaccio de tomate.
Sobremesa: Cada colherada desse sorvete de doce de leite fez a vida valer a pena. Queria muito provar algum aqui em Buenos Aires e acho que fiz a escolha no lugar certo.
Passei a tarde no apartamento organizando coisas no computador (entre elas este espaço aqui). Estou tentando encontrar vontade para escrever uma newsletter para domingo enquanto me sinto culpada por estar escrevendo este diário de viagem. Não mandei a edição do domingo passado então me sinto na obrigação pessoal de mandar a do próximo. Tudo bem que era 1 de janeiro, mas eu realmente poderia ter escrito algo antes, só não tive vontade. Paralelamente a isso, continuo me questionando se quero ou não seguir com a newsletter. A resposta tem sido tão boa, são cerca de 500 pessoas me acompanhando, me sinto feliz com ela, mas várias forças opostas me dizem que eu deveria parar ou, pelo menos, dar um tempo. Queria pensar sobre isso com mais calma para alcançar alguma clareza, mas tampouco tenho me deixado pensar. No momento, estou observando as duas piscinas do prédio e me perguntando se a da direita está suja ou se ela é realmente verde. Também estou me perguntando se eu frequentaria a piscina se eu morasse aqui já que pelo visto os moradores daqui curtem muito tomar sol nela, diferentemente dos dos prédios que morei em São Paulo que raramente desciam pro térreo.
Acabei me enganando e passei calor de calça. Troquei por um vestido e fomos em direção ao Bar Naranjo, de vinhos. Passei muita vergonha porque pegamos Uber pela primeira vez e descemos sem pagar, acostumada que sou com meu cartão de crédito conectado no app no Brasil. Quando já estávamos no bar, ouvi a buzina e me deparei com a expressão de interrogação do motorista. Saí correndo pedindo mil desculpas em português, inglês e espanhol e ele riu e entendeu.
O bar estava vazio às 18h e o lugar era espaçoso, então nos arriscamos e resolvemos conhecer o Café La Noire, que era próximo. Esse realmente parecia um café de Santa Cecília, com mesinhas e banquinhos de escola na parte de fora para sentar. Pedi um alfajor e não tinha, me contentei com um minidoce estilo camafeu de nozes bem gostoso que a atendente sugeriu no lugar.
Quando voltamos para o Naranjo ele ainda estava quase vazio e conseguimos uma boa mesa na calçada. Foi enchendo aos poucos e lotou (ouvi bastante sobre o hábito dos argentinos jantarem tarde e é legal ir comprovando na prática). Comentamos que aquele bar poderia estar em São Paulo, Barcelona ou Tóquio porque a decoração e o estilo dos bares de vinhos são sempre muito parecidos. Isso é bom? Ruim? Não sei. Escolhemos um vinho laranja para fazer jus ao nome do lugar e comemos pão, azeitonas e uma salada de milho com abacate. Tudo que provei até agora foi bom demais. Me sinto feliz e sortuda por estar aqui.