Lançado: 1987
Estrelas: ⭐⭐⭐⭐
Esse livro do Marukami habita minha estante desde 2017. Não lembro onde ou por que comprei, mas sei do ano porque ele tem uma etiqueta de preço colada na parte de trás que mostra que foi adquirido em Londres, e a última vez que estive em Londres foi em 2017. Tentei algumas vezes começar a ler, mas por ele ser em inglês sempre me deu muita preguiça. Sei que se a gente consegue ler no idioma original essa é sempre a melhor escolha, mas descobri recentemente que prefiro ler tudo em português mesmo. Gosto mais das palavras em português, as construções das frases, tudo fica mais gostoso em português — provavelmente porque eu penso em português.
Diferentemente do que vi em alguns reviews, não achei um livro tão agradável de ler, ele se arrastou em algumas partes, achei que poderia terminar em duas semanas e levei o mês inteiro. Entretanto, toda vez que eu deixei o livro de lado, os personagens continuaram aparecendo na minha cabeça.
Durante a primeira metade, pensei em desistir umas três vezes. Concluí que teria sido um livro muito impactante se eu tivesse lido em 2017, quando eu estava no começo/meio dos meus 20 anos, mas agora com quase 30, não estava conseguindo me interessar tanto pela história de pessoas entre 17 e 21. Não sei se dá para caracterizar como uma história coming of age, mas fala sobre crescer, fazer escolhas, deixar pra trás certezas e abraçar novas vontades. É um livro sobre perdas.
É um livro também sobre luto e tem muitas personagens femininas lidando com depressão. Estando em 2023, não tem como não se incomodar, mesmo que levemente e mesmo entendendo que o livro foi escrito em 1987 e é ambientado no fim dos anos 1960, com a sexualização dessas personagens. Acho que é intencional o retrato delas como “objetos” de interesse, curiosidade e desejo do protagonista, mas elas me pareceram meio homogêneas no geral. É sempre difícil pra mim, em livros em primeira pessoa, separar o que é a visão do personagem (que pode ser mesmo limitante) de uma possível falta de sensibilidade e habilidade do autor de construir personagens femininas mais complexas. De qualquer forma, me envolvi com elas, me identifiquei e, depois da metade do livro, não queria mais que o livro acabasse. É uma sensação sempre esquisita, um gosto agridoce na boca, me identificar com personagens que estão sofrendo com questões graves de saúde mental. É como se eu tivesse sendo levada a romantizar essas experiências porque, de certa forma, também me sinto como elas muitas vezes, não na parte da depressão diagnosticada, mas perdendo o controle ou sentindo que não consigo comunicar o que passa aqui dentro.
Enfim, nunca havia lido nada do Murakami e aparentemente esta é uma obra fora da curva dele. Ansiosa pelos próximos.