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Escrever transforma a gente em uma pessoa que está sempre errada

— Pois é, estar errado — disse Jerry — era uma coisa insuportável para mim. Absolutamente insuportável.

— E agora ficou mais fácil?

— Não tenho que me preocupar com isso. A sala de cirurgia transforma a gente em um pessoa que nunca está errada. Bem parecido com escrever.

— Escrever transforma a gente em uma pessoa que está sempre errada. A ilusão que a gente tem de que algum dia pode vir a acertar é a loucura que nos empurra para diante. O que mais seria capaz de fazer isso? A exemplo do que acontece com os fenômenos patológicos, isso não arruina completamente a nossa vida.

— E como é a sua vida? Onde você mora? Li em algum lugar, nas costas de algum livro, que você estava morando na Inglaterra com uma aristocrata.

— Moro na Nova Inglaterra, sem nenhuma aristocrata.

— E no lugar dela?

— Ninguém no lugar dela.

(“Pastoral americana, Philip Roth)