Que as pessoas fossem criaturas polimorfas, não chegava a representar uma surpresa para o Sueco, embora seja sempre um pequeno choque se dar conta disso mais uma vez, quando uma pessoa nos decepciona. O que o estava deixando espantado era como as pessoas pareciam correr para longe de si mesmas, correr para longe da matéria mesma, qualquer que fosse ela, que fizera dessas pessoas aquilo que eram e, assim drenadas de si mesmas, elas se transformavam no tipo de gente de quem, em outros tempos, elas mesmas teriam sentido pena. Era como se, enquanto sua vida estava transcorrendo rica e plena, elas estivessem secretamente fartas de si mesmas e mal pudessem esperar a hora de desembaraçar-se da sanidade, da saúde e de todo o senso de proporção, a fim de poder descer até aquele outro eu, o eu verdadeiro, que era sempre um ser imprestável e completamente desiludido.
(“Pastoral americana”, Philip Roth)