Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter no Substack, que mantive ativa durante seis meses em 2022.
Bom dia 👋
Eu, como metade do mundo, adoro listas de fim de ano — apesar de recentemente ter percebido que nunca li uma inteira já que em vez de aproveitá-las para conhecer algo novo, eu uso para comprovar que o que já conheço foi bom mesmo. Exemplo: caí numa lista das melhores séries do ano, dei um ctrl+f em White Lotus e quando vi que ela não estava lá simplesmente fechei a página kkk).
Sempre quis fazer uma lista dessas sobre o que eu gosto, mas como não tenho capacidade de escolher, pensei em fazer uma retrospectiva dos textos que mais curti ter escrito aqui ou dos mais bem-sucedidos. Desisti porque achei que seria chato (e nem foram tantos assim). No lugar, resolvi me inspirar numa newsletter que vi há um tempo e abrir meu caderninho de notas para mostrar 12 coisas que considerei ou cheguei a tentar escrever neste ano e não consegui. Sinto que é um jeito de complementar o texto da semana passada e dar uma chance a essas ideias ganharem corpo, quem sabe eu consiga enxergá-las com mais clareza depois disso ou elas acabem virando um texto de um de vocês (isso seria incrível).
Quando estava na ELLE, eu costumava sonhar que iria escrever uma reportagem imensa e incrível sobre como essa loucura em que nos enfiamos de ficar falando sobre gerações o tempo todo ia nos destruir. Algo estilo a matéria da Anne Helen Petersen sobre millennais serem a geração burnout. Não fiz na ELLE, mas assim que criei esta newsletter imaginei que poderia fazer aqui. Não fiz pra cá tampouco e agora sinto que já passou o timing, nem sei mais se tem alguma coisa para ser dita (apesar de eu continuar com vontade de fazer para contemplar esse meu desejo que já dura tanto tempo).
Há umas semanas, li um tweet em que uma menina dizia que havia dissociado durante uma conversa. Achei que ela tinha escrito errado a palavra desconectado e segui a vida. Uns dias depois, uma newsletter chegou falando sobre dissociação e no meu curso “autoras que escreveram NY nos 1950” essa palavra foi usada para se referir a um dos temas que várias delas trataram em suas obras. Tive que jogar no twitter para entender a dimensão da coisa e vi que a palavra (às vezes dissociado, outras desassociado) está por toda parte. Pensei em escrever sobre o que significa a adoção dessa expressão neste momento do mundo — e também da aflição de descobrir uma expressão ou um movimento atrasada — mas desisti exatamente porque imagino que só eu não a conhecia até agora.
desassociei e me vi de longe, o shape conversou comigo to muito grande
— os cara é foda (@aguamolhaada) October 21, 2022
Assim que avisei as pessoas que ia sair do trabalho no fim do ano passado porque precisava urgentemente descansar, a maioria me falou que eu deveria aproveitar o tempo para viajar, mudar de país etc. Eu sempre adorei viajar, mas por algum motivo não quis exatamente neste ano em que tive todo o tempo do mundo. Acho que, além de dinheiro, as razões giram em torno de a) a oportunidade inédita de poder criar uma rotina saudável pra minha vida, ir em médicos, fazer exercícios, conhecer meu bairro, poder ir em estabelecimentos de dia de semana sem pegar fila e aproveitar as pequenas coisas do lugar em que sempre vivi e que deixei passar; b) achar que gostar de viajar virou um traço de personalidade que a gente abraçou por osmose e que muitas vezes nos faz passar por experiências nada a ver só pra escrever na bio de um aplicativo de relacionamentos que gostamos de viajar; c) não conseguir decidir que tipo de viagem eu gostaria de fazer. Talvez desse pra desenvolver mais, mas é mais provável que seja só isso mesmo.
Alguma metáfora do meu vício em The Sims com a vida. Mas o quão óbvio e clichê seria esse texto??
É um pouco chocante a quantidade de textos que tenho lido recentemente, em especial de mulheres, dizendo que desejam escrever mais ou sonham em viver da escrita, mas não o fazem por medo. Fico me questionando se tem a ver com ser mulher, com o próprio ato de escrever ou com redes sociais. Minha intuição diz que tem mais a ver com redes sociais, passando pelas duas outras coisas, claro. Parece ser um medo de ser ignorada, de ser cancelada, que não existia com tanta força quando, por exemplo, a Sylvia Plath dizia no diário dela que estava ansiosa para saber se a New Yorker iria ou não aceitar o texto que ela enviou. Antes parecia ser mais uma questão de desejo do que de medo. Enfim, eu me sinto assim também, mas fiz um pacto que evitaria ao máximo escrever sobre escrever, então deixei pra lá.
Sim, estou contemplando essa ideia, apesar de nunca ter cogitado ter filhos, graças ao meu quadro de endometriose. Automaticamente, quando minha ginecologista disse que eu deveria pesquisar sobre o assunto, imaginei que ele poderia virar um tema para a newsletter. Mas, quando saí do consultório do médico especializado em fertilidade, eu só consegui dar risada de mim mesma porque senti que parecia que eu só tinha ido lá pra poder escrever sobre a experiência. Existem muitas crônicas que descrevem o processo que é bem interessante mesmo (algumas são ótimas, outras não), mas só de imaginar que enquanto a pessoa estava vivendo aquilo ela já estava arquitetando seu relato meu corpo se espreme de vergonha.
Essa frase é deste texto da Rayne Fisher-Quann e tem a ver com o que falei no item acima e com tudo o que me atormenta hoje em dia. Ou seja, sou incapaz de abordar o tema no momento.
É mais provável que esse fosse apenas uma desculpa para falar do meu fascínio pelo primeiro blog da internet (Justin’s links from the underground), um espaço que fazia com que os amigos e familiares do autor tivessem medo de contar coisas para ele porque ele era radicalmente sincero nos seus posts (se alguém se interessar, o Justin tem um documentário bem divertido e curioso sobre essa época, aka o início da internet).
Essa era mais uma busca de acolhimento pelas vezes em que me prejudiquei por coisas idiotas porque achava que ia incomodar os outros (vide eu criança constantemente indo parar na casa da motorista da van porque ela esquecia de parar na minha casa e eu não avisava). Em um episódio do Respondendo em voz alta, a Laurinha Lero contou sobre um serial killer que escolhia matar mulheres porque elas ficavam com vergonha de dizer não e entravam no carro quando ele pedia. Também vi um vídeo sobre femcels e o quanto a questão delas é pedir desculpas “por terem defeitos”, o que me parece ser o exato oposto dos incels que costumam culpar as mulheres. Tem muita coisa aí, não sei se teria a capacidade de desenvolver um texto com o cuidado e pesquisa necessários.
Acho que ninguém se interessaria em ler sobre isso — e nem deveria.
Essa é a pergunta. Por quê? Não sei.
Eu tenho essa teoria que nunca consegui explicar direito que é sobre o quanto pra mim é completamente surreal que a gente possa falar outros idiomas. Sendo a língua a expressão máxima da cultura de um povo, do estilo de vida, dos costumes etc, eu sinto que é muito estranho que a gente seja capaz de aprender isso de longe, sem ter vivido naquele determinado lugar, sido um bebê que aprendeu a falar imitando a forma das pessoas ao redor abrirem a boca, respirarem, pensarem. Por isso, quando nos vejo angustiados por termos sotaque em inglês ou empresas exigindo fluência acho bizarro. Espero não estar ofendendo quem estuda línguas com essa opinião, eu, na verdade, adoraria estudar sobre a área e entender melhor.
É isso por hoje! Semana que vem envio o texto #20, e os outros domingos são Natal e dia 1 de janeiro, então não sei se mandarei newsletter ainda. Meu plano dos 24 textos coincidirem com o último dia de 2022 foi por água abaixo quando pulei duas semanas por causa das eleições, então não importa muito se eu deixar pra terminar no ano que vem.
Bom domingo 🌼,
Nathalia