|||

#17: Mais um vlog escrito

Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter no Substack, que mantive ativa durante seis meses em 2022.

Bom dia!

Da última (e primeira/única) vez que eu fiz o vlog escrito, eu estava afogada em um freela e ele foi a solução que encontrei para não enviar um e-mail em branco. Aqui estou nessa mesma situação e recorrendo a essa saída novamente.

Sem mais delongas, aqui vai mais uma lista/diário de coisas que li, vi, comi, fiz e pensei + atualizações da vida da última semana, que inclui cartas para o futuro, futebol e vários links.

Vlog escrito #2

Na segunda de manhã, pensando sobre o possível (iminente?) fim do Twitter, cheguei à conclusão que o que sempre me interessou e me repeliu ao mesmo tempo nessa rede social foi o seu idioma próprio. Existe um jeito específico de se comunicar no Twitter no qual eu nunca senti que era fluente e por isso não escrevia muito por lá, mas observava fascinada. Envolve memes, obviamente, mas também remover pontuação, conjugar verbos de forma aleatória e sempre ter o que dizer mostrando extrema confiança ou autodepreciação. Lembrei que já havia pesquisado sobre isso antes e reli partes deste texto — o nome é bem ambicioso: A Brief History of Internet Culture and How Everything Became Absurd — que fala de um monte de coisa que pessoas que usam o Twitter ativamente devem saber ou viver na pele, mas que eu achei extremamente interessante de ler de fora. Uma delas é o Weird Twitter, que parece ter sido quem (ou o que) gerou essa língua própria” do Twitter lá no comecinho da rede. Weird Twitter refere-se a uma massa vagamente conectada de usuários do Twitter que criam tweets surreais e engraçados com ortografia/pontuação ruins e novos formatos e humor inovadores. Eles também odeiam ser rotulados de Weird Twitter. O conteúdo que eles criam varia do político ao absurdo passando pelo poético”, define o autor.

Na segunda à tarde, tive uma súbita vontade de enviar uma carta para mim mesma pelo FutureMe. No fim do ano passado, decidi fazer disso um hábito de ano novo, mas pratiquei essa infração enviando agora porque estou nessas de cometer crimes contra a minha disciplina. Recomendo tanto isso quanto escrever uma carta pro futuro. É uma das experiências mais estranhas e maravilhosas receber um e-mail de você cinco anos depois e ver o quanto 73% de tudo o que você está se preocupando agora é inútil.

No fim do dia, tive a segunda aula do curso As mulheres que escreveram Nova York —vou precisar de muitas newsletters pra conseguir elaborar tudo o que estou aprendendo lá. É focado nos anos 1950 e, inspirada por ele, me propus a ler todos os dias uma passagem do livro Os Diários de Sylvia Plath, que apesar de possuir há alguns anos não tive a determinação para terminar até hoje. Mas acho que foi bom, estou gostando de ler assim, como se fosse um oráculo. A passagem da segunda-feira foi: Se eu vou pagar pelo tempo & cérebro dela, como se estivesse fazendo supervisão da vida & das emoções & o que fazer de ambas, então vou trabalhar para danar, questionar, revirar a lama & o lixo & me obrigar a tirar o máximo proveito disso”. Era sobre as sessões de terapia que ela estava fazendo com a dra. Ruth Beuscher e achei que combinou bastante com o meu momento porque estou começando a fazer psicanálise.

Na terça, cozinhei uma receita de arroz de tomate e camarão que orgulhosamente criei a partir da junção de uma receita de arroz de tomate e uma de arroz de camarão que vi no YouTube. Fazia muito tempo que eu não cozinhava.

Ainda na terça, segui este TikTok e lavei o cabelo diluindo o shampoo. Meu cabelo nunca ficou tão macio.

Durante toda a semana, percebi que tenho o espírito de mãe desde que nasci porque não consigo assistir Copa do Mundo sem ficar triste vendo os jogadores que perderam por goleadas. Até hoje mora na minha cabeça o 7 x 0 de Portugal contra a Coreia do Norte em 2010, que não sei por que estava assistindo. Lembro que o jogo foi na chuva e basicamente todos os gols foram no segundo tempo, o que eu acho ainda pior.

Na quinta, depois do jogo, tive o último encontro da oficina sobre Normal People que fiz na Livre Literatura. Decidi ler o hit da Sally Rooney em 2019, quando estava esperando uma conexão no aeroporto de Heathrow e vi a capa na livraria. Não tinha muita ideia de quem ela era ou do que se tratava, mas durante a viagem me senti meio básica com a escolha porque em praticamente todos os lugares que fui tinha alguma garota jovem parecida comigo com o rosto colado nele. Foi um dos livros mais rápidos que já li e me apaixonei mesmo sabendo que isso me colocava à mercê de memes sobre os meus gostos clichês por eu ser uma millennial clichê. O tempo passou e eu acabei esquecendo completamente da história, se alguém me perguntasse do que se tratava eu não saberia dizer. Resolvi fazer a oficina porque queria relembrar essa leitura e entender se eu tinha deixado alguma coisa passar e a resposta é definitivamente sim. Tem muita coisa interessante ali que acho que algumas pessoas não se deixaram tocar por causa da atmosfera que se criou em torno da autora e do livro. É uma obra que fala da dificuldade de se aceitar o amor e do desejo por uma comunicação plena e os ruídos nesse processo. Na oficina, percebi também o quanto eu gosto da forma como a Sally Rooney escreve sem pontuações para marcar diálogo e de quebra ainda descobri que ela cria playlists para descrever cada uma de suas personagens. O curso foi ministrado pela Bárbara, da newsletter Queria ser grande, mas desisti, que eu indico muito.

Sexta de manhã, por causa da última edição da newsletter Bits to Brands, lembrei que a seção de comentários da música Quando bate aquela saudade”, do Rubel, é maravilhosa e perturbadora, e passei um tempão nela de novo. Não é simplesmente incrível que as pessoas ouçam uma música e resolvam compartilhar frustrações e lembranças e desejos extremamente pessoais na internet? A essa altura nem sei mais se as histórias são reais ou são pessoas apenas querendo participar dos mais de 50 mil comentários e fazendo ficção. De qualquer forma, sempre quis fazer uma matéria sobre isso, só não consigo imaginar que tipo de veículo se interessaria, rs.

Na sexta, fui visitar o novo escritório da ELLE e fui muito feliz no happy hour que fizemos com espumante, salgadinhos da Padaria Real (indicação do Pedro que conquistou todo mundo) e a playlist especial da Su com todas as músicas que ela mais gosta. Nada mais chic do que isso.

No geral, fiquei dedicada ao freela essa semana e assisti alguns jogos da Copa. O que tenho de mais interessante para contar é que depois de Realismo capitalista, resolvi continuar na saga Mark Fisher e comecei a ler Fantasmas da minha vida: escritos sobre depressão, assombrologia e futuros perdidos. Ironicamente, perdi um pouco o controle na black friday. Um pouco de droga um pouco de salada.

É isso! Nos vemos semana que vem.