Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter no Substack, que mantive ativa durante seis meses em 2022.
Olá, bom dia, obrigada por estar aqui neste domingo ensolarado 🥵. Eu ia escrever algo sobre Twitter e redes sociais, já que nitidamente não há textos suficientes sobre o assunto na internet, mas para a sorte de todos nós mudei de ideia.
Umas semanas atrás eu e o Lucas resolvemos conhecer um novo restaurante moderninho, desses com azulejos coloridos ou ripado de madeira na parede e poucas opções de pratos. Não vou falar o nome porque isso não é um comentário sobre ele especificamente — tampouco uma crítica negativa até porque gostamos muito da comida — é apenas uma observação sobre a vida que calhou de ser desencadeada pela tendência escandinava de menus minimalistas que estão invadindo (já invadiram?) São Paulo.
Ao que tudo indica, os cardápios hoje precisam se restringir à parte da frente de uma folha para serem levados a sério. Em muitos casos, são descartadas seções conhecidas, como entradas, prato principal, acompanhamentos, porções. Quando elas existem, porém, os nomes são meio misteriosos. Parece que se você se esforçar sempre vai encontrar um jeito criativo de não precisar chamar uma entrada de entrada, e os restaurantes estão gostando do exercício.
Ao se sentar, atendentes costumam logo dizer que todos os pratos são compartilháveis, a ideia é pedir alguns, colocá-los no centro da mesa e ir comendo em conjunto. Nesse em questão, porém, a mesa era tão pequena que quando a garçonete me falou isso eu devo ter feito uma cara de interrogação involuntária que a fez ter que me explicar de novo o conceito da casa. Supus, então, que deveríamos fazer os pedidos aos poucos.
Pedimos dois pratos que estavam na categoria “entrada que não tem nome de entrada” e, como previsto, quando eles chegaram nossos copos ficaram à beira do abismo. As louças eram grandes, mas o conteúdo dos pratos era pequeno, se estivéssemos em mais pessoas definitivamente não seria possível “compartilhá-los”. Na sequência, escolhemos nossa opção preferida de uma categoria que parecia ser destinada a pratos maiores e a garçonete perguntou qual seria o outro prato principal. Confusa, já que até então eu estava entendendo que a ideia do restaurante era eliminar esse tipo de restrição, falamos que ia ser só isso mesmo e ela foi embora mais confusa do que eu.
Claramente a noção atual de “pratos no meio da mesa para compartilhar” desses restaurantes hypados é muito diferente da que eu tinha consolidada na minha cabeça. Até então, compartilhar para mim era pedir uma porção de 12 bolinhos de arroz para ir pegando aos poucos enquanto o pote segue ali no meio da mesa. Agora, porém, ela virou um prato caro de duas mini unidades de alguma coisa, e aí cada um coloca a sua no seu próprio prato e o recipiente no qual elas vieram vai embora no minuto seguinte. Para deixar claro, não sou contra menus degustação e/ou pratos pequenos conceituais, o que me deixou inquieta foi realmente essa questão do “pedir vários pratinhos para compartilhar no meio da mesa” e cada pratinho custar mais de 50 reais, você não ter ideia de qual é o tamanho deles e a quantidade ser tão ínfima que eles não ficam na mesa!!
Outro fato curioso que esta matéria do Eater me fez perceber é que em vários desses restaurantes os pratos não têm mais nomes ou explicação, apenas um arremesso ríspido dos ingredientes tipo “abóbora, cebolinha, mel e amendoim”, o que faz com que além de você não saber o tamanho deles, você também não tenha como dizer com segurança se é uma salada, uma sopa ou uma sobremesa. Inevitavelmente, e indo contra a ideia de uma experiência imersiva que imagino ser o objetivo desses espaços, todo mundo acaba recorrendo ao celular para ver a imagem no Instagram.
Deduzo que o menu minimalista, sem ou com separações inovadoras, surgiu como uma resposta às limitações do cardápio tradicional. Ele seria atraente para os chefs, que poderiam passar uma visão mais direta da sua proposta, reduzir custos e convidar as pessoas a experimentarem mais coisas, e também para os clientes — pensando agora eu realmente já me perguntei por que eu não podia comer uma ou duas entradas como prato principal sem precisar receber olhares de desconfiança do garçom (o que não aconteceu no lugar em questão). Imagino que também seja uma forma de se colocar na contramão de restaurantes que fazem descrições muito detalhadas de seus processos porque sempre parece que eles estão apelando para convencer as pessoas do seu valor — e dos que chegam no limite, estilo Paris 6, ao abusar da nossa boa vontade com nomes de pessoas para os pratos e explicações quilométricas e autoelogiativas que quase sempre envolvem as palavras “delicioso” e “maravilhoso”.
Quanto mais consumo novidades, mais me convenço de que tudo o que surge como uma solução vira ruim de novo depois de um tempo. Tipo termos acabado com o despertador e o telefone fixo para concentrar essas funcionalidades no celular. Agora que ando querendo eliminar meu uso de redes sociais na cama e, para isso, preciso me forçar a deixar meu aparelho na sala, eu não posso porque dependo do despertador que está lá e de um meio de comunicação caso minha mãe precise me ligar de madrugada em uma emergência. Ou a carteira. Não sei se aconteceu o mesmo por aí, mas, por um tempo, ela foi abolida ao meu redor. As pessoas começaram a levar cartão no bolso ou documentos jogados na bolsa não sei muito bem por quê. Cansada de ter que ficar caçando meu rg, a carteirinha do plano de saúde, grampos de cabelo, cartão de crédito e moedas, que cada hora estavam em uma bolsa ou bolso diferente, me rendi ao acessório que um dia foi o marco da minha passagem da infância à pré-adolescência. Um amigo me contou que também voltou a usar uma recentemente na esteira da superação da onipresença da pochete transversal mesmo com o celular podendo concentrar cartão e alguns documentos hoje em dia. Depois de nós millennials termos resolvido destruir tudo, parece que agora estamos voltando atrás (em algumas coisas). Eu, pelo menos, me sinto voltando atrás em um monte.
A ideia de nos livrarmos de cardápios “setorizados, tradicionais e impositores” pode ter sido empolgante em algum momento, mas confesso que comecei a sentir falta das divisões, das descrições e dos pratos fartos. Não estou falando de lugares tipo, sei lá, o Noma ou o Oteque, que nunca fui, mas parecem fazer bastante sentido e fazer aplicações sólidas do que eles têm em mente. Acho que o problema, na verdade, é quando se é colocada muita ênfase na parte visual de uma nova tendência e consequentemente se deixa preterida a parte prática — como um restaurante que diz que a ideia é pedir vários pratos para compartilhar no meio da mesa, mas a mesa não tem espaço, as cadeiras são desconfortáveis a ponto de você não querer ficar muito tempo ali compartilhando aquele momento, os atendentes dizem que não há divisão, mas acham estranho você não pedir dois pratos principais, e você acaba gastando muito por não saber qual é o tamanho ou a quantidade das coisas.
Sinto que por causa de adesões superficiais de tendências, a gente acaba sentindo falta do que veio exatamente antes. Ou talvez seja só o ciclo da vida mesmo. Não sei. Não tinha pensado nessa metáfora quando comecei a escrever o texto, mas tem a ver também com as novas formas de trabalho que foram se desenvolvendo nos últimos anos, supostamente baseadas em eliminar a parte chata, como a hierarquia e a burocracia, e substitui-las por escritórios playgrounds, horários flexíveis e pejotização. O resultado, porém, foi as pessoas se submetendo a jornadas de trabalho ainda mais longas, acumulando funções e atualmente sonhando com a volta do departamento de RH.
Ironicamente, em julho, a matéria do Eater que citei acima insinuou o fim do menu minimalista. O repórter Rafael Tonon entrevistou alguns profissionais da área que diziam que os clientes voltaram a desejar mais contexto nos menus por causa da pandemia e da popularidade do delivery.
Fiquei sabendo que era possível desativar o recebimento de e-mails e passar a usar só o app do Substack para ler as newsletters que assino por aqui. Não pensei meio segundo antes de buscar como fazer isso porque já me habituei a ler pelo site ou usar o app e assim poderia desafogar meu e-mail. Mas sem querer eu acabei me desinscrevendo de todas as newsletters que eu assinava!!!!
Caso você tenha uma newsletter e tenha reparado que eu apareci de novo como uma nova assinante foi isso o que aconteceu. Até agora não acredito que cometi esse erro idiota, sigo tentando lembrar de todas as que eu era inscrita para me inscrever novamente. Isso com certeza é um castigo divino por eu ter quase cometido uma heresia, já que a ideia da newsletter é o e-mail. Uma voz esperançosa dentro de mim continua acreditando que o Substack não vai transformar o mundo das newsletters no que o Spotify transformou o dos podcasts, mas acho que é tarde demais.
Há meses estou em busca de um novo sapato preto para quem sabe enfim dar um folga ao meu Dr. Martens que está literalmente rasgando. Fiquei apaixonada por este da Melissa, mas ele está esgotado em todos os lugares. Se alguém tiver um tamanho 37 para vender, ou souber de algum parecido de outra marca (sapatos da Prada estão fora do meu orçamento), por favor ente em contato 🥺
Ainda não sei se essa é a coisa mais inútil ou mais incrível para a qual já usei um iPhone, mas me inspirei em um TikTok para catalogar todas as minhas combinações de roupas (todas as que eu já havia fotografado alguma vez na vida). Achei que valia compartilhar porque sei que todo mundo que assistiu As patricinhas de Beverly Hills está desde então buscando uma forma de ter o closet tecnológico da Cher e a nova atualização do iOS permite que você se recorte de fotos e cole-as em um bloco de notas que você pode organizar por peças de roupa ou como bem entender. Coisa de quem não tem nada pra fazer (eu) e/ou adora atividades mecânicas (eu). Tenho certeza que existem ideias ainda melhores para serem exploradas com esse recurso, aguardo vocês.
Por fim, pessoas novas chegaram por aqui na última semana, talvez por causa do bloco de notas da Gama ou pela indicação deste texto na newsletter (obrigada Luara e Bárbara!) e queria dar boas-vindas!! Muito doido pensar que o que escrevo pode interessar pessoas que não sabem quem eu sou, mas ao mesmo tempo isso é basicamente o que eu faço assinando um zilhão de newsletters por aí.
É isso por hoje até semana que vem,
Nathalia