|||

#13: Breves relatos

Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter no Substack, que mantive ativa durante seis meses em 2022.

Olá, bom dia 🙃

Na segunda meu computador voltou do conserto no que pareceram três anos longe dele. Escrevi as newsletters das últimas duas semanas no iPad do meu namorado e foi uma experiência horrível. Não pelo iPad em si, ter podido contar com ele como um backup foi um grande privilégio, mas a questão era me sentir estranha em um ambiente que não era meu. Agora que meu notebook está de volta, um pouco da vida parece ter voltado pros eixos também: minhas abas, meus favoritos, meus aplicativos, meu The Sims (que ainda não joguei mas gosto de saber que está aqui), a forma como eu navego pelo meu e-mail, tudo em seu devido lugar para me deixar tranquila. Sou uma pessoa que nunca trocará o desktop pelo celular, não consigo imaginar isso acontecendo e fico angustiada quando estou longe de casa e preciso resolver qualquer coisa por uma tela pequena. Meu dia é moldado em volta de um computador e eu preciso dessa âncora para ficar equilibrada.

Por estar sem ele, acabei deixando a leitura de newsletters acumular porque não fazia sentido ler sem estar no ambiente controlado do meu notebook em que eu poderia salvar alguma que gostei usando o plugin do Raindrop ou migrá-la para a pasta ler depois” que tenho no Arc.

Na sexta, finalmente parei para ver todas de uma vez, o que é sempre uma ideia péssima. Não sei porque continuo fazendo isso, talvez tenha a ver com o site do Substack ter uma página que reúne as últimas edições das minhas assinaturas com setinhas de próximo. O site é mesmo muito prático e amigável, mas obviamente faz as coisas ficarem meio mecânicas, como se ler uma newsletter fosse um item de uma lista de tarefas — bem apropriado pra mim que transformo todas as coisas legais da minha vida em tópicos para ticar. Acontece que por causa disso comecei a achar muitas das newsletters entediantes e iguais e quando a última edição da minha surgiu logo após passar por uma dessas, me senti estranha por fazer parte disso.

Criei esta newsletter para dar atualizações do meu ano sabático e acabei transformando a maior parte dela em ensaios sobre um tema específico, como medo, disciplina, dependência, falta de atenção e a crise dos 30 anos. Claro que isso não deixa de fazer parte da proposta já que esses temas fazem parte das minhas angústias e desejos que estão acontecendo durante este ano, mas comecei a me sentir meio vítima das regras inventadas por mim mesma quando ficava nervosa por não conseguir pensar em um texto complexo e interessante sobre um sentimento que pudesse render 20 mil toques. Algumas coisas que tenho vontade de relatar são breves e acho que não rendem muitas palavras.

Por exemplo:

  1. Queria contar que já há algum tempo ando com vontade de sair de São Paulo. Imaginava que poderia ter essa vontade aos 50 anos, mas está batendo agora no fim dos 20. Já pensei no interior, na praia, em capitais de outros estados e mais utopicamente em Tóquio. A newsletter desta semana da Gaía Passarelli me fez pensar ainda mais nisso.

  2. Me inscrevi em dois cursos online que acontecerão em novembro sobre livros. Fazer cursos que não fossem especificamente sobre temas que tivessem relação direta com a minha carreira no jornalismo de moda era algo que nunca passava pela minha cabeça. Mas simplesmente senti a urgência de aceitar fazer esses quando soube da existência deles como se estivesse naquele filme Sim Senhor. Então é isso, em novembro vou passar muitas noites ouvindo pessoas que não sei quem são falando sobre alguns livros que já li e outros que não. Talvez eu tire algo disso, talvez absolutamente nada, vamos ver.

  3. Estou realmente empolgada para ir no Primavera Sound e fazia tempo que não me sentia assim. Vai ser engraçado ver a Michelle Zauner de novo já que quando assisti o Japanese Breakfast em Tóquio foi bem mais porque ela era a única banda que eu conhecia fazendo show na semana que eu estava lá. Mas agora eu já me sinto amiga deles tendo passado o último ano ouvindo mais o Jubilee do que a minha própria voz e indicado o Crying in H Mart como se eu fizesse parte da campanha de lançamento. Também vou contemplar a sad indie girl que nunca saiu de dentro de mim com Phoebe Bridgers, Beach House, Mitski e sei lá, talvez até ouça um pedaço do Arctic Monkeys. A empolgação faz coisas inimagináveis.

  4. Bem menos empolgada estou com a ressonância magnética que vou fazer amanhã. O dia que encarei esse exame pela primeira vez entrou sem exageros para o top 2 piores dias da minha vida. Cada minuto daquele acesso na minha mão para colocar o tal do contraste tirou cinco dias de felicidade do meu ano. Saí da sala de exame transparente, como se tivesse visto a pior assombração da história. Para completar, um dos exames de sangue que fiz recentemente vai ter que ser refeito porque aconteceu algum problema no laboratório. Alguém que já teve pavor de agulhas conseguiu superar isso? Poderia me contar como? Momentos de terror bem a tempo do Halloween.

  5. Saí de manga curta pela rua na terça e senti o sol queimando os pelinhos do meu braço. Na quarta entrei no carro quente como uma estufa e a sensação foi estranhamente confortável. Encontrei muitas pitangas em uma árvore e lembrei do marido de uma amiga da minha mãe que tinha 2 metros de altura e pegava várias pra mim quando eu era criança. Nunca mais tinha pensado nessa pessoa que morreu antes de eu entrar na adolescência e que me apresentou essa frutinha tão gostosa. Achava que não, mas claramente meu humor é influenciado pelo clima. Graças à primavera, acordei cedo no sábado e estava claro, um raio de sol insistente entre duas nuvens me deu ânimo para escrever esta newsletter e me fez acreditar um pouco mais que o futuro vai ser melhor e que o agora vale a pena.

View this post on Instagram

A post shared by nathalia (@nathalialevy)

  1. Não queria terminar falando de coisa ruim, mas é que vi no Twitter que o dono do The Coffee é bolsonarista e que tem um monte de gente chateada em descobrir isso e só consigo lembrar que quando eles estavam chegando em SP fui tentar descobrir do que se tratava e eles tinham apenas um site de em breve” escrito em japonês (e com opção de tradução pro inglês). Ainda por cima, o domínio era .jp e fiquei iludida achando que era alguma coisa japonesa chegando por aqui. Na verdade, eram homens curitibanos colocando funcionários em cubículos, vendendo café superfaturado (e, de acordo com pessoas que apreciam café, café ruim. Confesso que a qualidade do café não era a nossa principal preocupação”, é uma aspa de uma entrevista de um dos donos) e usando elementos da cultura japonesa como alegoria para as pessoas postarem fotos minimalistas no Instagram. A gente se emociona por muito pouco, né?

É isso, hoje foi rápido! Toda semana falo bora Lula, mas nesta queria focar no bora Haddad porque a gente não merece o pesadelo que vai ser o Tarcísio aqui em São Paulo.

Bom domingo e até semana que vem,

Nathalia